terça-feira, 31 de maio de 2016

Por dentro da REDOMA...

Não faz muito tempo, dei-me conta de que guardamos a sete chaves objetos com memória afetiva. Arquivamos com empenho, envoltos em zelo, tudo para mantê-los preservados. Contudo, conservamos (escondemos) com tanta eficiência que, muitas vezes, esquecemo-nos do tesouro ocultado. Uma pena... 
E foi assim, matutando sobre, que resolvi exibir uma fortuna há tempos refugiada dentro do armário, uma herança valiosa, um patrimônio que não tem preço: álbum de fotos do meu avô. Mas como deixar algo tão frágil exposto às intempéries? Simples: REDOMA! Ótimo artifício para resguardar do pó, umidade e dedinhos, deixando ao alcance dos olhos e da lembrança o que não se compra. Um exemplo de decoração com identidade. Confira!



O emblema estampado na capa é a insígnia da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Adotou-se o lema "A cobra está fumando", em resposta àqueles que consideravam ser mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra. Esse distintivo está no álbum, pois meu avô foi veterano do Exército Brasileiro, famigerado Pracinha, lutou ao lado dos países Aliados contra os países do Eixo na Segunda Guerra Mundial. 
Neste álbum estão fotos e relatos da guerra, como também de sua família, parte de sua história. Abaixo algumas das fotografias que mostram que a cobra fumou: 


Saulo Duarte Ribeiro, pracinha brasileiro, meu avô materno.



"Eu e a guarnição de minha peça, num momento de instrução na Vila Militar (Rio), com um canhão americano, calibre 105."

"Quando eu era cabo apontador de uma peça Schneider Francesa, calibre 75."






Já que entramos nesse assunto, tenho um livro para indicar caso queiram relembrar a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial: 


O livro "1942: O Brasil e sua Guerra Quase Desconhecida", escrito por João Barone, baterista do Paralamas do Sucesso e filho de Pracinha, narra sua pesquisa pelo passado do pai e do país para unir dados, curiosidades e histórias emocionantes de uma campanha incrível que muitas vezes o próprio brasileiro desconhece.

Recomendo, igualmente, a página Portal FEB, maior site sobre o Brasil na Segunda Guerra Mundial.

Agora, se estiver no Rio de Janeiro, visite o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, local que abriga os restos mortais dos Pracinhas transladados da Itália para o Brasil e depositados no mausoléu construído no subsolo do monumento. Ainda poderá conferir o acervo composto por fotografias, troféus, armas da campanha militar, objetos utilizados pelos Pracinhas e artefatos da Segunda Guerra Mundial. 

A idealização do monumento é o cumprimento de uma promessa feita pelo Marechal João Baptista Mascarenhas de Moraes, comandante da FEB: trazer de volta ao país os heróis brasileiros mortos em campo de batalha na Itália. O projeto arquitetônico do monumento coube a Marcos Konder Netto e Hélio Ribas Marinho, o projeto urbanístico ao arquiteto Afonso Eduardo Reidy e o paisagismo ao Roberto Burle Marx.




A Escultura Metálica ao fundo, instalada sobre uma base de granito, é de autoria de Júlio Catelli Filho, homenagem à Força Aérea Brasileira (FAB); no primeiro plano, sobre uma base de granito, está o Grupo Escultórico com cinco metros de altura, de Alfredo Ceschiatti, homenagem aos pracinhas das três Forças Armadas, representadas por um marinheiro, um soldado e um aviador.

Termino com um trecho retirado do livro "Cruzes Brancas: Diário de um Pracinha", escrito pelo ex-combatente Joaquim Xavier da Silveira: 

"Aliás, a guerra não é heróica. Não é como em livros, ou filmes. Não há bandeiras, nem tambores, nem cornetas com toques marciais, nem tampouco heróis condecorados, que voltam para casa e beijam a noiva. Ninguém sente vontade de ser herói, e quando pratica qualquer ato de bravura, o faz quase inconscientemente. O que há na guerra é sujeira, lama, frio, fome, cansaço de noites a fio sem dormir, medo da morte, sofrimento e monotonia, esta terrível monotonia de todas as guerras. A monotonia de cavar um ‘foxhole’ (buracos de abrigo) e ficar escutando aqueles ruídos surdos, ouvindo aqueles estrondos que não param nunca". 



Agradecimento especial à Cláudia Ikari e à Centauri Acrílicos, responsáveis pela confecção da redoma e sua base, ambas em acrílico.